A doença de Parkinson (DP) é amplamente conhecida por seus sintomas motores, como tremores, rigidez e bradicinesia. Contudo, as manifestações não motoras, especialmente o comprometimento cognitivo leve (CCL), têm recebido crescente atenção devido ao seu impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. Neste contexto, a Escala de Avaliação Cognitiva para a Doença de Parkinson (PD-CRS, Parkinson Disease Cognitive Rating Scale) surge como uma ferramenta valiosa para a detecção do CCL. Entretanto, a compreensão dos correlatos neuroanatômicos associados aos escores do PD-CRS ainda é limitada, particularmente no que tange à relação entre a morfologia cerebral e o desempenho cognitivo.
Este artigo publicado em parceria com o IBNeuro, Dr. Pedro Brandão (neurologista que desenvolveu e liderou a pesquisa) aborda os achados de um estudo recente que investigou as disparidades no volume cortical (CVol) e na espessura cortical (CTh) entre pacientes com DP que apresentam CCL (PD-MCI) e aqueles com habilidades cognitivas preservadas (PD-IC). Além disso, o estudo buscou identificar os correlatos estruturais, via ressonância magnética (RM), dos escores gerais e dos subtestes do PD-CRS em uma coorte de pacientes com DP sem demência.
Metodologia
O estudo envolveu 51 pacientes com DP nos estágios I-II da escala de Hoehn & Yahr, classificados em dois grupos: PD-IC (n = 36) e PD-MCI (n = 15). As avaliações cognitivas incluíram o PD-CRS e o Montreal Cognitive Assessment (MoCA). A classificação do PD-MCI seguiu os critérios da Task Force da Movement Disorder Society, incorporando uma extensa avaliação neuropsicológica. A relação entre a morfologia cerebral e o desempenho cognitivo foi determinada utilizando a plataforma FreeSurfer, que permite a análise detalhada de CVol e CTh em todo o cérebro.
Resultados
A análise por vértice de todo o cérebro revelou uma redução significativa no CVol em uma área de 2.934 mm², abrangendo regiões parietais e temporais, no grupo PD-MCI em comparação ao grupo PD-IC. Além disso, escores mais baixos no PD-CRS foram associados a uma diminuição no CVol nos córtices frontal médio, temporal superior, parietal inferior e cingulado. Subtestes específicos do PD-CRS, como Atenção Sustentada e Desenho do Relógio, mostraram correlações com a diminuição da CTh em regiões distintas, sugerindo que diferentes aspectos do desempenho cognitivo estão vinculados a alterações neuroanatômicas específicas.
Conclusão
O desempenho no PD-CRS reflete mudanças neuroanatômicas em extensas áreas fronto-temporo-parietais, tanto nas superfícies corticais laterais quanto mediais, em pacientes com DP sem demência. As alterações observadas em CVol e CTh, associadas a esta ferramenta de triagem cognitiva, sugerem seu potencial como marcadores substitutos para o declínio cognitivo em DP. Esses achados destacam a importância de estudos futuros multicêntricos para a validação independente dessas correlações neuroanatômicas.
Este estudo não apenas expande o entendimento sobre a relação entre a morfologia cerebral e o desempenho cognitivo em DP, mas também sugere novas direções para o desenvolvimento de intervenções que possam mitigar o impacto do CCL nessa população. Para os profissionais de saúde, esses insights são fundamentais para aprimorar a avaliação e o manejo de pacientes com DP, promovendo uma abordagem mais integrada e personalizada para o cuidado desses indivíduos.
Para saber mais: https://www.frontiersin.org/journals/neuroanatomy/articles/10.3389/fnana.2024.1362165/full