O campo da psicologia tem presenciado um crescente interesse na investigação das semelhanças e diferenças entre o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) e o Transtorno do Espectro Autista (TEA), particularmente no que diz respeito às habilidades sociais e relacionais. Um estudo publicado na Frontiers in Psychology, examinou as possíveis sobreposições entre esses dois transtornos em termos de empatia, teoria da mente e mentalização.
Tanto o TPB quanto o TEA são caracterizados por dificuldades significativas nas interações sociais e na comunicação. No entanto, os mecanismos subjacentes a essas dificuldades parecem ser distintos em cada transtorno. O TEA é tradicionalmente associado a déficits na teoria da mente (ToM), a capacidade de atribuir estados mentais a si mesmo e aos outros. Por outro lado, o TPB é frequentemente caracterizado por uma desregulação emocional e dificuldades na mentalização.
Um aspecto intrigante revelado pelo estudo é a "dissociação dupla" da empatia cognitiva e afetiva no TPB. Enquanto indivíduos com TPB demonstram níveis mais baixos de empatia cognitiva (a capacidade de entender a perspectiva do outro), eles apresentam níveis mais altos de empatia afetiva (a capacidade de experimentar as emoções dos outros). Esse padrão contrasta com o observado no TEA, onde geralmente há déficits tanto na empatia cognitiva quanto na afetiva.
Outro conceito relevante discutido no artigo é a "hipermentalização" no TPB. Diferentemente do TEA, onde há uma tendência à "hipomentalização", indivíduos com TPB frequentemente fazem interpretações excessivas e muitas vezes incorretas dos estados mentais dos outros. Essa tendência à hipermentalização está associada a dificuldades na regulação emocional, um aspecto central do TPB.
O estudo também destaca evidências neurobiológicas que suportam essas diferenças. Por exemplo, pacientes com TPB demonstram menor ativação na fissura temporal superior (STS) durante tarefas de empatia cognitiva, mas maior ativação no córtex insular médio durante atividades envolvendo empatia emocional, em comparação com grupos controle.
É importante notar que, embora haja sobreposições sintomáticas entre TPB e TEA, especialmente em termos de dificuldades sociais, os mecanismos subjacentes parecem ser distintos. Enquanto o TEA é caracterizado por uma dificuldade fundamental em "ler" os estados mentais dos outros, o TPB parece envolver uma tendência a "ler demais" e interpretar erroneamente esses estados.
Os autores do estudo enfatizam a necessidade de mais pesquisas nesta área, particularmente utilizando protocolos de diagnóstico compartilhados que permitam medições homogêneas. Além disso, eles sugerem que futuras investigações poderiam explorar possíveis sobreposições entre TPB e TEA em relação às funções executivas e ao controle de impulsos, aspectos que ainda não foram extensivamente estudados neste contexto.
Em conclusão, este estudo oferece insights valiosos sobre as complexidades da empatia, teoria da mente e mentalização no TPB e no TEA. Compreender essas nuances é crucial não apenas para o avanço do conhecimento teórico, mas também para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas mais eficazes e personalizadas para indivíduos com esses transtornos. À medida que a pesquisa nesta área continua a evoluir, é provável que vejamos uma compreensão mais refinada das semelhanças e diferenças entre TPB e TEA, levando a abordagens de tratamento mais direcionadas e eficientes.
Para saber mais: https://www.frontiersin.org/journals/psychology/articles/10.3389/fpsyg.2021.626353/full