O teste projetivo HTP (House-Tree-Person) ou Casa-Árvore-Pessoa, que consiste em fazer o paciente desenhar uma casa, uma árvore e uma pessoa, é amplamente utilizado por psicólogos clínicos e educacionais para avaliação da personalidade e detecção de indicadores de transtornos psicológicos. No entanto, a interpretação das características que aparecem nos desenhos frequentemente varia entre profissionais e carece de padronização na literatura científica.

Pensando nisso, pesquisadores chineses (Guo et al., 2023) realizaram uma extensa revisão sistemática e metanálise examinando o uso do HTP especificamente com pacientes diagnosticados com transtornos mentais. Foram incluídos 30 estudos prévios, identificando um total de 50 características de desenho HTP recorrentes.

 

Potencial preditivo das características do HTP para transtornos mentais

A análise estatística demonstrou que 39 dessas 50 características tiveram poder significativo de predizer a presença de algum transtorno mental nos pacientes. Essas características preditoras foram organizadas pelos pesquisadores nas seguintes categorias interpretativas:


Ausência de itens: Reflete perda de autoconsciência ou defesas psicológicas intensas, como omitir portas ou janelas na casa.

Bizarras/distorcidas: Implicam conflito psicológico ou irrealidade, como uma árvore morta ou pessoa desproporcional.

Detalhes excessivos: Sugerem ansiedade evidente provinda de conflitos internos, como paredes da casa ou pessoa sombreadas em preto.

Pequenas/simplificadas: Denotam esquiva e retraimento devido a baixa motivação mental, como desenhar uma casa muito pequena.

Especificidade conforme tipo de transtorno mental

Análises separadas para transtornos do pensamento e transtornos do afeto revelaram indicadores de desenho específicos para cada categoria diagnóstica, assim como indicadores comuns entre eles.

Por exemplo, ausência de movimento, casa inclinada e telhado decorado mostraram-se exclusivamente preditivos para transtornos do afeto, como depressão e ansiedade. Já separação excessiva entre itens, sem janela, perda de características faciais e proporções corporais distorcidas foram exclusivos para esquizofrenia e outros transtornos do pensamento.

Já características como casa muito pequena, árvore muito pequena e desenho simplificado sem adornos foram preditores inespecíficos, comuns para qualquer suspeita de transtorno mental.

 

Conclusão

Esses achados trazem evidências científicas que podem aprimorar o uso e interpretação clínica do HTP por psicólogos, auxiliando no screening e diagnóstico diferencial de diversas psicopatologias.

As categorias interpretativas das características, bem como seus indicadores específicos e inespecíficos, constituem um modelo que permite analisar os desenhos HTP de forma mais sistemática e padronizada.

Portanto, ao se deparar com ausência de itens, distorções bizarras, detalhamento excessivo ou simplificação/minimização nos desenhos de casa-árvore-pessoa, o psicólogo pode ter mais confiança de que essas são pistas válidas apontando para a possibilidade de transtornos psíquicos subjacentes no paciente.



Para mais informações: Guo, H., Bao, F., Ma, Y., Zhang, X., Fan, H., Dong, Z., Chen, T., & Gong, Q. (2023, January 4). Analysis of the screening and predicting characteristics of the house-tree-person drawing test for mental disorders: A systematic review and meta-analysis. Frontiers in Psychiatry. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2022.1041770
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyt.2022.1041770/full

 

15 de janeiro de 2024 — DANILO PEREIRA