Acabamos de publicar esse novo estudo no MedRxiv, um artigo em formato pré-print, investigando alterações microestruturais cerebrais e fadiga após a infecção pelo coronavírus (COVID-19).

Nesse estudo, mostramos haver diferenças na microestrutura de diversos tratos de substância branca cerebral de pacientes 3 meses após a infecção por COVID, na comparação com indivíduos não infectados (grupo controle pareado).

Essas diferenças tiveram correlação com níveis de fadiga medidos por uma escala clínica.


RESUMO DO ESTUDO:

BACKGROUND

O estudo teve como objetivo avaliar a fadiga e o desempenho neuropsicológico e investigar alterações da substância cinzenta cerebral (SC), assim como anormalidades microestruturais na substância branca em um grupo de pacientes adultos 3 meses após serem acometidos pela COVID-19.

MÉTODOS

Foram estudados 56 pacientes que tiveram COVID-19 e 37 controles pareados usando Ressonância Magnética (RM). A cognição foi avaliada usando o MoCA e bateria CANTAB (Cambridge Neuropsychological Test Automated Battery).

A fadiga foi avaliada usando a escala de fadiga de Chalder (CFQ-11). A RM ponderada em T1 foi usada para avaliar a espessura e o volume da SC. Os índices de densidade de fibras aparente trato-específicos (FD), de água livre e os tensores de difusão foram extraídos da imagem de RM ponderada em difusão (d-MRI).

Estes dados foram correlacionados com medidas clínicas e cognitivas usando correlações parciais e modelos lineares generalizados.

RESULTADOS

 

Os pacientes com COVID-19 estudados tiveram doença aguda leve a moderada (95% não hospitalizados). O período médio entre o diagnóstico (baseado no exame de RT-qPCR) e as avaliações clínicas e de RM foi de 93,3 (±26,4) dias.

O grupo COVID-19 obteve pontuações mais altas na CFQ-11 do que o grupo controle (p < 0,001). Não houve diferença no desempenho neuropsicológico entre os grupos. O grupo COVID-19 apresentou menor densidade de fibras nos feixes axonais de associação, projeção comissurais, mas não houve alteração na SC.

Os tratos de substância branca envolvidos (com alterações microestruturais na densidade de fibras) foram: coroa radiata, trato corticoespinhal, corpo caloso, fascículo arqueado, cingulado, fórnice, fascículo fronto-occipital inferior, fascículo longitudinal inferior, fascículo longitudinal superior e fascículo uncinado.

Os escores da CFQ-11 se associaram com as alterações microestruturais no grupo de pacientes com COVID-19.



CONCLUSÕES

 

A d-MRI quantitativa detectou alterações na microestrutura da substância branca de pacientes 3 meses após a infecção por COVID. Este estudo sugere um possível substrato cerebral subjacente aos sintomas causados pelo SARS-CoV-2 durante a recuperação de médio a longo prazo.

24 de agosto de 2022 — Marcia Yunes