Pesquisadores em todo o mundo têm se dedicado a entender como e por quê a COVID-19 pode deixar consequências no cérebro humano. Para contar a experiência com o tema, convidamos a neuropsicóloga Julliana Regina. 


Julliana tem trabalhado a reabilitação cognitiva em pessoas que tiveram sequelas após se recuperarem da COVID-19 e contou para o IBNeuro um caso clínico e como ela tem trabalhado esse tema no consultório.


Para resguardar a identidade do paciente, criamos um nome e profissão fictícios. Vem com a gente entender como a COVID pode afetar as funções executivas. 


 

Caso clínico 



Fernanda Faria de 32 anos, recém formada em Comunicação Social, casada e mãe de uma criança de 3 anos, contraiu COVID-19 logo no início da pandemia em 2020. A jovem ficou em estado grave e internada por 40 dias na UTI.


Ao se restabelecer da infecção só conseguia lembrar de acontecimentos vividos até os 11 anos de idade.


Fernanda não se lembrava do casamento, da filha e tampouco do que havia aprendido na faculdade. 

 

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A intervenção inicial foi na tentativa de recuperar a memória da paciente, porém havia uma outra questão que dificultava o processo de reabilitação. 


Fernanda passou a apresentar um quadro grave de ansiedade e todas as vezes que alcançava um pico alto de ansiedade, apresentava um quadro semelhante à convulsão e desmaiava. 


Ao desmaiar, tudo aquilo que havia se lembrado era apagado novamente. Os médicos descobriram que esse quadro de ansiedade já existia antes, porém foi agravado pela infecção do vírus. 


A Avaliação Neuropsicológica e as Intervenções

 

Quando Fernanda chegou ao consultório foi feita a primeira avaliação neuropsicológica. Foi identificado o déficit de atenção e memória, atribuindo-se um diagnóstico de TDAH.


No primeiro momento o tratamento foi focado no TDAH e na ansiedade, que se agravava a medida que a paciente começava a relembrar fatos do passado. 


Nesse sentido, controlar a ansiedade foi fundamental para reduzir as crises que citamos acima, similares a crises convulsivas. Esse cuidado inicial foi determinante para que ela conseguisse passar um mês inteiro sem as crises. 


O controle inibitório e tomada de decisão foram trabalhados, pois está diretamente interligada com as funções executivas que são habilidades cognitivas que nos proporcionam pensar, planejar, estabelecer objetivos, memorizar e que também nos auxiliam em outras tarefas que envolvem controle, iniciação, persistência, esforço e inibição.


Com o andamento do tratamento, a paciente aos poucos foi recuperando sua memória através do que falavam para ela, e, diferente do primeiro momento, agora essas informações eram retidas. Além disso, também já era capaz de adquirir novas informações sobre variados assuntos. 


Depois de três meses o tratamento foi suspenso pela paciente por necessidades pessoais. 


Trouxemos essa história para mostrar as possibilidades de se trabalhar a reabilitação cognitiva em casos de sequelas deixadas pela COVID-19. 

 

 

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Renata Tavares