Inúmeros estudos têm demonstrado que crianças de baixo nível socioeconômico apresentam habilidades linguísticas inferiores do que crianças de nível socioeconômico médio ou alto (Burchinal, Peisner-Feinberg, Pianta, & Howes, 2002; Hart & Risley, 1995). Desde meados da década de 1990, as editoras de testes descreveram suas amostras normativas em termos de representar os percentuais de crianças de vários níveis socioeconômicos (nos Estados Unidos), e também incluíram populações de crianças com transtornos ou deficiências. Com efeito, a amostra normativa "compreende" uma série de subgrupos, e as normas. Porém, a realidade é que os testes não representam adequadamente nenhum destes grupos de crianças!
Os autores destes artigos acima argumentam que as normas de testes baseadas em uma única, com amostra de normas agregadas, podem levar à discriminação em base cultural, pois o nível socioeconômico familiar, muitas vezes indexada pela educação materna, é um componente crítico da cultura da criança. Além disso, eles afirmam que uma prática bem apoiada baseada em evidências inclui a consideração do nível socioeconômico familiar na interpretação do desempenho de uma criança nas medidas referenciadas por normas ao tomar decisões de elegibilidade. Eles observam que há evidências substanciais de que a educação materna está relacionada aos resultados da linguagem para crianças em idade pré-escolar e infantil (por exemplo, Hoff, 2006). À medida que a educação materna aumenta, a linguagem das crianças também aumenta. Quando os participantes são agrupados pela educação materna, as médias dos grupos diferem de forma mais confiável.
Os autores revisaram estudos que relataram médias para participantes de pesquisas agrupados pela educação materna. As diferenças de grupos de níveis socioeconômicos são evidentes nas medidas de vocabulário, bem como em medidas de linguagem mais gerais. As médias do grupo para a educação materna com ensino básico variam entre os escores padrão de 76 a 91; as médias para o ensino médio variam entre 76 a 96; as médias do grupo com mães com ensino superior completo variam de 81 a 101; e as médias para filhos de mães pós-graduadas variam de 87 a 111. Quando os participantes não eram recrutados exclusivamente de pré-escolas de baixo nível socioeconômico, as médias para os filhos de mães graduadas e pós-graduadas variavam de 101 a 110.
Crianças de famílias com mães que possuem apenas o ensino básico ou médio estão abaixo da média normativa referenciada pela população. Em contrapartida, a média das crianças do grupo de famílias de níveis socioeconômicos maiores e pais com formação universitária, aproximam ou excedem a média normativa de base populacional e excedem em muito as médias de crianças de famílias de baixo nível socioeconômico.
O que fazer?
Psicólogos e pesquisadores devem contemplar cuidadosamente o impacto de continuar a prática atual de interpretar o desempenho de uma criança em relação às normas derivadas de uma amostra populacional agregada de crianças. A base de evidências fornece suporte convincente para que os níveis socioeconômicos sejam incluídas nas distribuições amostrais, além de distribuições de base populacional. Assim, ao tomar decisões de elegibilidade, as equipes de avaliação podem considerar o desempenho de uma criança não apenas em relação à distribuição de base populacional, mas também em relação ao seu grupo de educação materna.
Para viabilizar tais práticas, as editoras de testes precisarão não apenas fornecer normas aos consumidores com base em uma amostra populacional agregada, mas também desagregar a população e fornecer normas para subamostras definidas pela educação materna. A decisão de fazer comparações com base em normas baseadas nestas subamostras ou normas de base populacional única é influenciada pela visão ou definição individual de comprometimento da linguagem do desenvolvimento.
Para saber mais: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/1048395018796520c
Referências:
Burchinal, M. R., Peisner-Feinberg, E., Pianta, R., Howes, C. (2002). Development of academic skills from preschool through second grade: Family and classroom predictors of developmental trajectories. Journal of School Psychology, 40, 415–436.
Hart, B., Risley, T. R. (1995). Meaningful differences in the everyday experience of young American children. Baltimore, MD: Paul H. Brookes.
Hoff, E. (2006). How social contexts support and shape language development. Developmental Review, 26, 55–88