Identificar fatores associados ao desenvolvimento de demência é de interesse clínico e de pesquisa, pois cria oportunidades para intervenções precoces. As dificuldades cognitivas autorreferidas (ou de autorrelatadas) são consideradas potenciais indicadores precoces de demência, pois as pessoas podem notar mudanças sutis no funcionamento antes que dificuldades objetivas se tornem aparentes durante a avaliação neuropsicológica. No entanto, as evidências são variadas e os mecanismos não são bem compreendidos. Alguns estudos mostram uma maior probabilidade de progressão para demência para pessoas que relatam dificuldades cognitivas subjetivas, enquanto outros estudos não.
A terminologia adotada ainda é bastante inconsistente na literatura e pode gerar algumas discrepâncias. Vejamos alguns exemplos: a queixa subjetiva da memória refere-se especificamente a problemas de memória, enquanto que queixa cognitiva subjetiva pode incluir outras dificuldades que não são de memória, como a atenção e velocidade de processamento; comprometimento cognitivo subjetivo pode não ser preciso se apenas forem descritas dificuldades sutis, e o termo declínio cognitivo subjetivo (DCS) está ganhando força como o termo aceito, reconhecendo domínios cognitivos que não sejam de memória, e implica numa medição longitudinal, onde a pessoa compara seu status cognitivo atual com o anterior.
Os métodos de avaliação variam de perguntas únicas dicotômicas, do tipo sim/não a medidas escalonadas de itens múltiplos (escalas do tipo Likert), abordando vários domínios cognitivos. No entanto, parece haver pouca associação entre avaliação subjetiva e desempenho cognitivo objetivo, e o declínio cognitivo subjetivo (DCS) varia ao longo do tempo.
Avaliações subjetivas podem estar relacionadas ao humor, personalidade e qualidade do sono, e não ao DCS (mensurado pelos testes neurocognitivos formais), fatores que potencialmente representam alterações patológicas precoces associadas ao desenvolvimento da doença de Alzheimer antes que as alterações cognitivas possam ser avaliadas com segurança. A consciência prejudicada das dificuldades cognitivas pode ser um indicador mais preciso do desenvolvimento de demência, e pode-se sugerir que as informações fornecidas pelo declínio cognitivo subjetivo são mais sutis do que simplesmente uma avaliação das habilidades cognitivas e podem ser melhor utilizadas para detectar alterações invisíveis.
Inconsistências na implementação e conceitualização do DCS têm implicações no diagnóstico de comprometimento cognitivo leve (CCL), pois muitos sistemas de diagnóstico consideram exclusivamente as percepções dos indivíduos sobre o funcionamento de sua memória. A negligência de outros domínios cognitivos pode levar a taxas de prevalência conservadoras de CCL e indivíduos não diagnosticados. Dada a importância do diagnóstico precoce da demência e da identificação das pessoas em risco, é importante investigar o declínio cognitivo subjetivo para esclarecer inconsistências e determinar como o conceito deve ser melhor medido e/ou concebido.
Adaptado de https://academic.oup.com/ageing/article/48/1/122/5107352
Para saber mais: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4617342/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4317324/
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1474442219303680