Uso da Figura Complexa de Rey na avaliação do Transtorno do Espectro Autista
O teste da Figura Complexa de Rey é uma medida neuropsicológica clássica, amplamente utilizada em diversos contextos, que avalia a capacidade de organização perceptivo-motora, a atenção e a memória visual não-verbal. O teste consiste em copiar uma figura complexa e depois reproduzi-la de memória, após um intervalo de tempo. O desempenho no teste pode ser influenciado por diversos fatores, como idade, escolaridade, inteligência e funções executivas.
Zhang et al. (2021) realizaram uma revisão sistemática sobre o teste da Figura Complexa de Rey e sua aplicação clínica em diversos transtornos neuropsiquiátricos, incluindo o TEA. Os autores destacaram que o teste pode avaliar diferentes aspectos cognitivos, como percepção visual, memória visual, planejamento e organização espacial. Eles também ressaltaram que o teste pode ser sensível para detectar alterações cerebrais estruturais e funcionais associadas a esses transtornos. Em relação ao TEA, os autores mencionaram que alguns estudos encontraram diferenças significativas entre indivíduos com TEA e controles típicos na cópia e no recall da figura complexa, sugerindo déficits na percepção visual global e na memória visual.
Cardillo et al. (2020) investigaram as habilidades de processamento visuoespacial utilizadas por crianças com e sem TEA para realizar o teste da Figura Complexa de Rey. Os autores compararam 30 crianças com TEA e 30 crianças típicas entre 8 e 12 anos de idade em diversas tarefas visuoespaciais, incluindo o teste da Figura Complexa de Rey. Os resultados mostraram que as crianças com TEA apresentaram um desempenho inferior na cópia e na evocação da figura complexa, assim como em outras tarefas que envolviam processamento global ou integração visuoespacial. Os autores concluíram que as crianças com TEA tendem a utilizar um estilo de processamento local e analítico para realizar o teste da Figura Complexa de Rey, o que pode prejudicar sua capacidade de organizar e memorizar a figura como um todo.
Korkmaz et al. (2016) compararam os perfis neuropsicológicos de 30 adultos com TEA e 30 adultos típicos em uma bateria de testes que incluía o teste da Figura Complexa de Rey. Os autores encontraram que os adultos com TEA apresentaram um desempenho significativamente pior na cópia e na evocação da figura complexa, assim como em outras medidas de memória visual, atenção dividida e funções executivas. Os autores sugeriram que os déficits na memória visual podem estar relacionados a alterações na conectividade funcional entre as regiões occipitais e temporais do cérebro.
Com base nesses estudos, pode-se inferir que o desempenho inferior no teste da Figura Complexa de Rey em crianças e adultos diagnosticados com TEA reflete as dificuldades desses indivíduos em integrar informações visuais globais e em armazená-las na memória visual de longo prazo. Essas dificuldades podem estar associadas a alterações neuroanatômicas e neurofuncionais que afetam o processamento visuoespacial. Além disso, o teste da Figura Complexa de Rey pode ser um instrumento válido para diferenciar entre indivíduos com TEA e indivíduos típicos, sendo útil para o diagnóstico e a intervenção nesse transtorno.
Referências:
Cardillo, R., Lievore, R., & Mammarella, I. C. (2020). Do children with and without autism spectrum disorder use different visuospatial processing skills to perform the Rey-Osterrieth complex figure test? Autism Research, 15(7), 1311-1323. https://doi.org/10.1002/aur.2717
Korkmaz, B., Alev Girli, A., Erermis, S., Bildik, T., Taneli, C., Aydin, C., & Mutluer, T. (2016). Neuropsychological profile in high functioning autism spectrum disorders. Comprehensive Psychiatry, 66, 75-83. https://doi.org/10.1016/j.comppsych.2016.01.008
Zhang, X., Lv, L., Min, G., Wang, Q., Zhao, Y., & Li, Y. (2021). Overview of the Complex Figure Test and Its Clinical Application in Neuropsychiatric Disorders, Including Copying and Recall. Frontiers in Neurology, 12, 680474. https://doi.org/10.3389/fneur.2021.680474