Imagem retirada de: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMct1208070 

 

Uma das avaliações realizadas pela equipe do IBNeuro é a avaliação neuropsicológica para pacientes candidatos à DBS. Afinal, o que é e para que serve esta avaliação?

 

A Estimulação Cerebral Profunda (DBS, do inglês *Deep Brain Stimulation*) representa uma estratégia terapêutica emergente para condições neurológicas e psiquiátricas refratárias, incluindo a Doença de Parkinson (PD) e epilepsia refratária. A complexidade da técnica e a variabilidade dos desfechos exigem um rigoroso monitoramento cognitivo pré e pós-operatório.

 

Relevância da Avaliação Neuropsicológica

A avaliação neuropsicológica constitui um elemento crucial para prognosticar e interpretar alterações pós-cirúrgicas em pacientes submetidos à DBS (Agosta et al., 2013; Gülke et al., 2022; Škorvánek et al., 2017). Agosta et al. (2013) apontam a correlação entre o Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) e alterações na substância branca em indivíduos com Doença de Parkinson, ressaltando a importância de um diagnóstico cognitivo preciso e individualizado.

 

Heterogeneidade dos Desfechos Cognitivos

A literatura apresenta variações substanciais nos desfechos cognitivos associados à DBS. Mehanna et al. (2017) identificaram um potencial declínio cognitivo em certos contextos, enquanto Xie et al. (2022) demonstraram uma probabilidade reduzida de deterioração cognitiva quando o DBS foi realizado no Núcleo Subtalâmico (STN) em pacientes com DP e CCL. Rothlind et al. (2014) também enfatizam a heterogeneidade desses desfechos, reforçando a necessidade de avaliações neuropsicológicas individualizadas.

 

Domínios Cognitivos Específicos e Monitoramento Continuado

O foco em domínios cognitivos específicos, como a fluência verbal, é especialmente relevante em PD com DBS no STN (Wyman-Chick, 2016). Tröster et al. (2017) e Dague et al. (2023) corroboram a importância do monitoramento continuado de memória e humor, particularmente em casos de DBS no Núcleo Anterior do Tálamo (ANT) para epilepsia refratária.

Além de escalas neuropsicológicas robustas, como o Montreal Cognitive Assessment (MoCA) e a Mattis Dementia Rating Scale (MDRS), é imperativo integrar avaliações psicológicas e considerações éticas no contexto pré-operatório (Vanhoecke & Hariz, 2017). Este enfoque multidimensional é corroborado por uma série de revisões e estudos focados em aspectos técnicos e neurocomportamentais da DBS (Cernera et al., 2019; Kubu, 2018; Witt et al., 2013; Kratter et al., 2022; Kenney et al., 2020; Tekriwal et al., 2019; Tröster et al., 2016; Chui et al., 2017).

A literatura científica reforça a necessidade imperativa de avaliações neuropsicológicas minuciosas no pré e pós-operatório como meio de otimizar os desfechos terapêuticos em diversas condições neurológicas e psiquiátricas (Heber et al., 2013; Jahanshahi et al., 2013; Franco et al., 2016). A convergência desses achados sublinha a importância de uma abordagem avaliativa abrangente e individualizada em pacientes submetidos à DBS.

Etapas para uma avaliação neuropsicológica pré-DBS

A avaliação neuropsicológica pré-operatória para Estimulação Cerebral Profunda (DBS) em adultos e idosos é um processo meticuloso que segue um conjunto de etapas bem definidas. Inicialmente, uma anamnese detalhada é conduzida para coletar informações sobre o histórico médico, neurológico e psiquiátrico do paciente. Em idosos, particular atenção é dada a condições médicas comorbidades, como hipertensão e diabetes, que podem ter impacto na função cognitiva.

Posteriormente, uma avaliação do estado mental é realizada para fornecer uma visão inicial das capacidades cognitivas do paciente. Em idosos, ajustes nas pontuações podem ser necessários para levar em conta os declínios cognitivos normativos relacionados à idade. Segue-se uma avaliação mais focada de domínios cognitivos específicos, que inclui a memória, a atenção, a linguagem, as habilidades visuoespaciais, as funções executivas e as habilidades motoras.

Paralelamente, é crucial avaliar os fatores psicossociais que podem impactar a função cognitiva, como isolamento social, ansiedade, depressão e estresse devido à doença de Parkinson. Uma avaliação funcional subsequente foca na capacidade do paciente para realizar atividades cotidianas, com ênfase em identificar deficiências que possam afetar a independência e a qualidade de vida.

Após a coleta e análise dos dados, os resultados são sintetizados em um relatório detalhado, que serve como base para discussões multidisciplinares sobre a viabilidade e o planejamento da intervenção com DBS. Aqui, considerações éticas e o balanço de riscos versus benefícios são meticulosamente ponderados. Finalmente, um feedback é fornecido ao paciente e aos familiares, abordando os resultados da avaliação e discutindo as opções terapêuticas subsequentes.

Cada etapa da avaliação é conduzida com rigor metodológico e clínico, levando em consideração as nuances associadas ao envelhecimento normal e patológico, bem como as diversas condições médicas, emocionais e sociais que podem influenciar o desempenho cognitivo. Este procedimento multifacetado visa não apenas fornecer um diagnóstico preciso, mas também estabelecer um plano de tratamento individualizado, otimizando assim os desfechos terapêuticos da DBS.

 

Referências:

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